Que o esporte é um grande aliado à prevenção de doenças e promoção do bem-estar, não é novidade para ninguém. O que muita gente não sabe é que a prática esportiva pode se tornar um risco à saúde, se feita em excesso e sem acompanhamento médico. Um estudo realizado pelo Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas de São Paulo, envolvendo um grupo de 443 atletas de alto rendimento, apontou o surgimento de problemas cardíacos que podem levar a morte, em consequência do excesso de esforço físico.
O trabalho apontou que 62% dos atletas desenvolveram bradicardia de repouso, que é uma espécie de arritmia, para menos batimentos cardíacos, que chegam a fazer o coração parar de bater em momentos específicos. Outros 33% desenvolveram hipertrofia do ventrículo esquerdo, que é um aumento de um dos lados do coração. Esses sintomas formam um quadro de risco, conhecido na comunidade médica como coração de atleta.
“É como diz o ditado popular: Tudo demais é veneno. A atividade física é, sem dúvida, a principal forma de reduzir os fatores de risco de doenças cardiovasculares, como colesterol alto, obesidade, alta da pressão arterial. Mas, da mesma forma que o sedentarismo é ruim, o excesso de exercício pode ser igualmente danoso à saúde”, alertou o doutor em cardiologia pela Universidade de São Paulo (USP), Valério Vasconcelos.
Alterações no coração provocadas pelo excesso de esforço físico
O treinamento físico intenso realizado por atletas, visando à busca do melhor rendimento esportivo ou pessoas que buscam resultados estéticos no corpo, expõe o coração a intensas sobrecargas ao longo de meses ou anos. Essa frequente exposição a sobrecargas provoca alterações no automatismo cardíaco, bem como ajustes na estrutura do coração ao esforço excessivo.
No estudo do Incor, a bradicardia sinusal corresponde à principal modificação eletrocardiográfica de repouso encontrada em atletas. O estudo mostrou também que, na alteração do formato do coração, a massa do ventrículo esquerdo do coração pode ficar até 85% acima do normal.
“A bradicardia de repouso é uma arritmia contrária a que estamos habituados a ver. Ao invés do coração acelerar, ele passa a bater excessivamente lento, chegando a ter pausas sintomáticas. Uma situação que pode ser fatal ao paciente”, explicou Valério.
Anormalidades podem surgir a qualquer momento
A parte mais preocupante dos riscos do excesso de atividade física é que não há uma regra que determine o tempo em que o indivíduo pode desenvolver problemas no coração. Isso significa que as más formações ou mau funcionamento podem surgir em curto espaço de tempo, surpreendendo o atleta.
“Isso depende muito do organismo do indivíduo, do tipo de atividade física que ele está fazendo, da intensidade diária e outras variantes. Sendo assim, os problemas podem levar um ano para surgir e podem acontecer em menos de seis messe”, alertou Valério.

Iniciação segura da atividade física
A primeira recomendação para uma prática segura de atividade física é começar com a Avaliação de Pré-participação Esportiva (APPE), que inclui análise do histórico do paciente, exames médicos específicos e a liberação do profissional médico para o início das atividades. A APPE também inclui avaliações periódicas, para comparar os resultados em diferentes momentos e detectar eventuais alterações.
O médico da Sociedade de Cardiologia de São Paulo, Nabil Ghorayeb, especialista em cardiologia esportiva, alertou para o risco de iniciar prática esportiva sem avaliação prévia.
“Quando você pega o carro para fazer uma viagem precisa saber se tem gasolina, se os pneus estão cheios, etc. A mesma coisa é o corpo. A pessoa que tem a pressão arterial normal, por exemplo, precisa saber se ela continua normal durante uma atividade física. Alguém quem tenha uma pressão de 14×9 em repouso, acha que está só um pouquinho alta e corre risco. Durante a atividade vai chegar a 23×10 ou 22×11 que são pressões perigosas à saúde”, exemplificou.
A recomendação inicial, segundo Ghorayeb, é de 150 minutos de atividades físicas regulares por semana. Para as pessoas mais jovens, que querem atividades com maior intensidade, o recomendável é praticar a partir de 75 minutos diários de atividade. “Para pessoas com mais de 40 anos a recomendação é alternar os dias de atividade física com dias de descanso”, pontuou.
Do amor à ciência
Valério Vasconcelos é cardiologista, dedicado à pesquisa científica na área de regeneração cardíaca, com uso de células tronco. Ao falar da prática de esportes como promoção de saúde e bem-estar, ele tem conhecimento de causa, tanto pela perspectiva do médico, quanto do atleta, já que é praticante de triatlo, um dos esportes que mais exigem do corpo, por reunir três modalidades (corrida, nado e ciclismo) em uma só.
Amante do esporte desde a adolescência, Valério levou a prática esportiva do amor à ciência, ao crescer praticando esportes e se tornar médico do coração e hoje recomenda atividade física como parte de tratamentos preventivos e curativos.
Ele fala de sua experiência com o esporte
Esportes náuticos, saúde e bem-estar
Os exercícios na água são uma ótima opção para as épocas mais quentes do ano e as regiões do país onde o calor predomina na maior parte do ano. Além de amenizar o calor, eles também ajudam a melhorar a circulação sanguínea e no relaxamento psíquico, por exemplo.
Aumentam a qualidade de vida – Quem pratica atividade física no mar, conhece a sensação de relaxamento e bem-estar proporcionada. O contato com a água e a brisa, associados à atividade física de baixo impacto contribuem para alta produção de endorfina.Ajuda a relaxar – O contato do corpo com a água descontrai os músculos. Ao final do exercício, o praticante sentirá a sensação de estar massageado nas pernas, braços e costas.
Tonificam o corpo – A água tem densidade 800 vezes maior do que o ar. Logo, a resistência que ela desempenha no corpo é constante e 12 a 14% maior do que qualquer atividade em ambientes secos.
Melhoram seu metabolismo – A resistência da água abordada no item anterior é responsável pelo ganho de músculos e por acelerar o metabolismo do praticante de esportes aquáticos. Assim, você emagrece até mesmo fora do mar.
Atividades de baixo impacto – Os exercícios fora da água, como a corrida, causam bastante impacto nos ossos e articulações. Na água, essas partes do corpo são protegidas pela redução da pressão que recebem. Isso implica em menos chance de lesão.

O esporte na dose saudável
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em todo o mundo, um em cada cinco adultos (25%) e quatro em cada cinco adolescentes (75%), com idade entre 11 e 17 anos, não praticam atividade física suficiente. Em 2018, a OMS lançou o plano de ação global para a atividade física 2018-2030, cujo objetivo é fazer com que todos os países reduzam a inatividade em 15% até 2030.
“Para quem está sedentário, uma simples caminhada é um bom começo. Isso vale tanto para pessoas saudáveis, quanto para quem tem algum problema cardiovascular”, disse o cardiologista Valério Vasconcelos.
Da Redação do OxentePB
Fotos: Rizemberg Felipe