Em busca de votos no Senado para aprovar sua indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Justiça, Flávio Dino, mudou repentinamente o discurso e agora tenta bancar neutralidade, dizendo que “um ministro da Corte não tem ideologia e nem lado político“. Não é o que o Brasil tem visto desde a saída de Lula da prisão e muito menos verá, caso Dino, um dos mais militantes ministros do governo, tome posse no STF.
O indicado por Lula (PT) para a suprema corte fez, nesta quarta-feira, 29, uma peregrinação pelos gabinetes do Senado Federal, pedindo apoio dos senadores para virar ministro do STF.
Acostumado aos embates com a oposição no Congresso Nacional, Dino disse que passou a vestir outra “roupa” desde que Lula o indicou para o STF. Ou seja, do nada ele deixará de defender os interesses do seu padrinho. Acredite quem quiser.
“Um ministro do Supremo não tem partido, um ministro do Supremo não tem ideologia, um ministro do Supremo não tem lado político. No momento [em] que o presidente da República faz a indicação, evidentemente que eu mudo a roupa que eu visto”, disse Dino após um encontro com o vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).
Ao deixar a reunião, Dino disse à imprensa que seguirá a agenda de encontros com “muita constância” e “perseverança”. “Estou aqui em busca dessa aprovação no plenário do Senado. E farei esse diálogo sempre com muito respeito, muita humildade, acerca desse lugar, da importância do Supremo Tribunal Federal, para que haja harmonia entre os Poderes”, afirmou.
Apesar do otimismo do Palácio do Planalto com a aprovação de Dino, os líderes do governo aconselharam o atual ministro da Justiça a buscar todos os senadores, inclusive os da oposição. A medida seria uma forma de reduzir resistências ao indicado de Lula diante dos diversos embates de Dino com integrantes do Congresso Nacional nos últimos meses.
“O perfil combativo é próprio da política. Evidentemente, quando você muda de função, você muda também o perfil da sua atuação. Fui deputado federal, governador, juiz federal, e cada função tem uma característica e tem um estilo”, disse Dino.
A verdade é que militantes bem mais discretos como os ex-advogados do PT, Edson Fachin e Dias Tofolli, na hora necessária manobraram a Lei e colocaram Lula no páreo político, pela conveniência de derrubar Bolsonaro.
Deram um reset no processo, para que Lula fosse julgado novamente, em outra vara da Justiça Federal, sabendo que ele estava prestes a completar a idade que impede de ser processado e a condenação a 12 anos de cadeia por corrupção ficaria o dito pelo não dito, sem que o réu fosse declarado inocente.
Talvez com Dino no STF, o disfarce seja menos discreto e as decisões pro Lula e sua turma tenham a roupa da militância propriamente dita.