Após escapar de ser preso, o Padre Egídio Carvalho resolveu ir à sede do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), na manhã desta quarta-feira (01), em João Pessoa, para prestar depoimento sobre as acusações de desvio de recursos do Hospital Padre Zé. No entanto, a iniciativa foi apenas uma encenação jurídica para dizer que estava fugindo da polícia. Isso porque o religioso ficou em silêncio durante o interrogatório.
Egídio chegou na sede do Gaeco por volta das 9h, mas saiu do local sem falar com a imprensa por volta das 10h. Até o final da manhã o Ministério Público não tinha se manifestado sobre o depoimento. Já os advogados que integram a defesa do padre disseram que a opção pelo silêncio foi em decorrência de não ter sido disponibilizado o motivo que levou os promotores a pedirem a prisão de Egídio, pleito que foi negado pelo juiz José Guedes, na tarde dessa terça-feira (31).
Essa é a segunda vez que Egídio vai ao Gaeco, mas sempre sem dizer nada, apenas para desqualificar a tese de que não esteja sendo localizado, o que motivaria a prisão preventiva. Ou seja, o padre não nega as acusações e apenas faz o jogo jurídico para escapar dos rigores da Lei.
A primeira visita ao Gaeco aconteceu logo após a realização da Operação Indignus, deflagrada no dia 6 de outubro, para fazer buscas e apreensões na casa dos investigados pelos desvios no Hospital. Um dos alvos foi a casa do padre, onde a polícia encontrou muita ostentação de riqueza, a exemplo de um fogão de R$ 80 mil e uma granja avaliada em R$ 5 milhões.
“O Padre se apresentou, compareceu, mas ainda vai prestar depoimento. Ele vai esclarecer tudo e colaborar. Hoje, ele compareceu diante da operação deflagrada ontem e entrega o celular de forma espontânea e se colocou à disposição para prestar futuras declarações”, disse o advogado de defesa, Sheyner Asfora (um dos mais caros do Estado), no dia 7 de outubro.
Acusação
Na acusação que está sendo feita pelo Ministério Público, o Gaeco considera que o padre Egídio usou o pretexto da ação social, através do Hospital Padre Zé, para atrair dinheiro e acumular uma fortuna pessoal. “Foi constatada uma considerável relação de imóveis atribuídos, aparentemente sem forma lícita de custeio, quase todos de elevado padrão, adornados e reformados com produtos de excelentes marcas de valores agregados altos”, diz parte da denúncia já tornada pública pelo MPPB.
Além da granja avaliada em R$ 5 milhões, o padre também tem um apartamento à beira mar de João Pessoa, avaliado em R$ 2 milhões, em um prédio de luxo na Praia de Cabo Branco.
A crise no entorno do Hospital Padre Zé teve início com a prisão de Samuel Segundo, pessoa de confiança do Padre Egídio. Ele é acusado de furtar iPhones doados pela Receita Federal para instituição e vender os aparelhos. Apenas nesse gancho da investigação a Polícia Civil aponta um desvio de pelo menos R$ 500 mil.
Com os desdobramentos, o Ministério Público chegou ao padre Egídio, como sendo o principal responsável pelos desvios.
Enquanto tudo isso acontece, o Hospital Padre Zé funciona com limitações de atendimento.